As Matrioskas

Uma obra literária juvenil que possa ser contemplada em um prêmio como este — o IV Prêmio Ufes de Literatura — talvez seja, antes de tudo, uma obra em que se reconheça o manejo hábil e criativo dos recursos linguísticos, que dialogue de maneira não submissa com a tradição literária (particularmente, com a tradição juvenil, na qual se inscreve), que desperte a atenção de um (potencial) leitor em formação para as relações íntimas em sua articulação com as dinâmicas sociais nas quais toma parte ou nas quais poderia tomar, mobilizado pela dinâmica ficcional do “E se?”. Foi isso, principalmente, o que nós, membros do júri, enxergamos em As matrioskas, da escritora Cristiane Dias, de Santa Catarina. O leitor tem em mãos uma obra que nos divertiu, nos instigou, nos fez divergir, nos fez explicitar (muitas vezes, antes de tudo, para nós mesmos...) os critérios que presidem o julgamento crítico de qualquer texto literário. É o mesmo movimento desafiador e prazeroso que desejamos àqueles que vierem a desvendar essa tão instigante imagem colhida, com muita propriedade pela autora, de (aparentes?) bonecas que guardam surpresas, que guardam segredos, que guardam mistérios.

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