Crise das democracias? Uma perspectiva da periferia e um projeto de esquerda para o século XXI
Licencia: Creative Commons (by)
Autor(es): Moreira, Marcelo Sevaybricker
Impactados especialmente pelo resultado do Brexit e pela vitória de Trump à presidência dos Estados Unidos, em 2016, as livrarias do mundo viram-se inundadas por obras cujo tema é o fim iminente da democracia. A maior parte desses trabalhos afirma que, em um contexto de recessão econômica e de descrença em relação às instituições representativas, lideranças com um discurso anti-establishment e utilizando-se de novas formas de comunicação lançam-se na disputa pelos cargos eletivos da democracia e, uma vez empossados, perseguem seus adversários e eliminam os mecanismos de controle do poder político (LEVITSKY; ZIBLATT, 2018; MOUNK, 2019; EATWELL; GOODWIN, 2020; PRZEWORSKI, 2022). Em resumo, a tese por trás dessas obras é que estamos vivendo um processo político distinto das rupturas institucionais do passado, usualmente marcadas pela participação das Forças Armadas. Não se revoga a constituição, não se fecha o parlamento, não se cassa mandatos parlamentares, não se institui censura, etc., mas se alteram os distritos eleitorais e o número de juízes das cortes constitucionais, deslegitimam-se as urnas e coage-se a imprensa, incitam-se o ódio e a violência contra os adversários etc. Essas práticas caracterizam o chamado “populismo autoritário” (MOUNK, 2019), que constituiria hoje a principal causa da “subversão institucional das democracias” (PRZEWORSKI, 2022). Esse autor ilustra esse processo furtivo e gradativo do seguinte modo: se colocamos uma rã em uma panela com água fervendo, ela saltará imediatamente; mas se, ao contrário, submergirmos a mesma rã em água fria que vai sendo aquecida até a morte, ela permanecerá na panela, sem notar o perigo.
Compartir:
Una vez que el usuario haya visto al menos un documento, este fragmento será visible.