O (IN)EVITÁVEL “MONSTRUOSO BICHO REPUGNANTE” (UNGEHEUERES UNGEZIEFER) NA RETRADUÇÃO DE DIE VERWANDLUNG DE KAFKA
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Autor(es): Raquel Abi-Sâmara
O presente artigo discute questões trazidas pela prática da retradução de uma obra clássica e suas implicações no sistema literário da língua alvo, a partir de um caso específico, que consiste na retradução de Die Verwandlung (A metamorfose) de Franz Kafka para o público leitor brasileiro, um trabalho comissionado que realizei para uma editora brasileira em 2019. Parte-se de uma questão terminológica e de complexa resolução em qualquer língua-alvo: Como traduzir para o português o termo Ungeziefer? O termo, que aparece logo nas primeiras linhas da novela de Kafka para definir a nova configuração do metamorfoseado protagonista Gregor Samsa, foi traduzido como “inseto” nas diversas traduções da obra publicadas no Brasil. A proposição de uma nova tradução para a palavra Ungeziefer, nesse contexto, encontra obstáculos que serão discutidos a partir da mais elementar questão que surge ao se pensar numa retradução: Por que retraduzir uma obra já traduzida? E agora uma questão mais direcionada para o público da língua alvo: Por que retraduzir Die Verwandlung para o português brasileiro se já existe uma tradução notável, ou, se preferirmos, “consagrada” (Deane-Cox 33), de 1985, feita pelo germanista brasileiro Modesto Carone (1937-2019), que não soa, de modo algum, como desatualizada?
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