Realismo e alegoria em Machado de Assis
Editorial: Polifonia
Licencia: Creative Commons (by-nc-sa)
Autor(es): Sanseverino, Antônio Marcos Vieira
A literatura de Machado de Assis se equilibra nos imperativos contraditórios do realismo e da alegoria. O primeiro assenta a prosa ficcional na busca da verossimilhança, nos traços particulares da pessoa e seu meio social, na plausibilidade das motivações, expectativas, experiências. O segundo valoriza o não-dito, motos ocultos, silêncios deliberados ou despercebidos, detalhes revelados ao arrepio da intenção dos narradores, lacunas produzidas pelos “fantasmas da máquina literária oitocentista”, como diria Toni Morrison. A hipótese remete logo à dificuldade de combinar as premissas da tradição iterária quanto à interpretação de alegorias com a referencialidade de princípio pertinente ao conhecimento histórico. Uma baliza do desafio é incorporar como ferramenta analítica a perspectiva de que
a literatura machadiana é deliberadamente construída para subverter e meter à bulha ilusões universalistas, sejam elas religiosas, místicas ou oriundas de certo cientificismo. A outra baliza, mais estranha aos intérpretes nossos contemporâneos do que o era para Machado de Assis, consiste no entendimento de que a história –quer dizer, a historiografia, o conhecimento em prosa sobre o processo histórico objetivo— não pode servir de âncora segura à interpretação de alegorias, pois ela própria vive de indeterminações, traços, ruínas, lacunas.
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